Em sua 12ª visita ao Brasil, o francês Bertrand Badie, especialista em relações internacionais e conflitos, recebeu o GLOBO na Embaixada da França em Brasília. Autor de vários artigos sobre manifestações populares, Estado e legitimidade no mundo islâmico, o catedrático de Relações Internacionais da Fundação Nacional de Ciências Políticas de Paris afirma que as manifestações no mundo árabe podem se difundir pela identificação de outras sociedades que vivem sob autocracias modernizantes, gerontocracias, ou que se reconheçam na humilhação de governos duros.
Ele diz ainda que os Estados Unidos serão afetados pelos tumultos na região e, por isso, já estão mudando a sua política radicalmente.
As manifestações no mundo árabe vão se espalhar?
O vetor da difusão é a identificação. O fato de essas revoluções terem enfrentado regimes de mesma natureza, autocracias modernizantes consideradas invencíveis e invulneráveis, e que foram sacudidas com tanta facilidade no regime de Ben Ali (Tunísia), faz que as outras, em primeiro lugar o Egito, mas também Argélia e Iêmen, possam observar este mesmo fenômeno de identificação.
A gerontocracia também deve ser considerada. A Tunísia foi dirigida - o Egito ainda é - por octogenários, por velhos. No mundo árabe, onde a juventude tem tanta importância, a velhice do ditador é símbolo de afastamento mais forte em relação à população. Há ainda a identidade da humilhação.
Que consequência teria sobre o processo de paz no Oriente Médio um governo no Egito menos propenso ao diálogo com Israel?
O Egito é um vizinho, assinou um tratado de paz com Israel. Teve um papel essencial nos últimos anos de apoio a uma lógica de estabilização regional, ainda que este não seja um fenômeno neutro. Em outras palavras, o Egito ajuda Israel. O regime de Mubarak é um auxiliar da política israelense e um instrumento de legitimação da sua intransigência. O governo de Israel tem bons motivos para estar preocupado, porque, qualquer que seja a solução pós-Mubarak, certamente não lhe será tão favorável.
E os Estados Unidos?
Também estão inquietos os Estados Unidos, que precisam dos egípcios, e, por isso, estão bem mais prudentes. O governo Obama tem por principal preocupação organizar, enquanto ainda é tempo, uma transição com o regime de Mubarak, de modo a assegurar que o seu sucessor continuará favorável à política americana e à israelense.
Leia a íntegra da entrevista em O Globo
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