Lançado em 1979 e considerado um dos vários pontos altos da carreira de Neil Young, o álbum "Rust Never Sleeps" é o reflexo de uma época conturbada tanto para o rock quanto para o próprio mundo. Era um tempo ainda muito marcado pela efervescência violenta e niilista do punk, com o ideário de paz e amor da geração "flower power" sepultado. Intrigado com a situação, o mestre canadense resolve expressar sua visão desse período através do disco em questão, cujo título, "A Ferrugem Nunca Dorme", já é uma alusão ao temor do autor de ser transformado em apenas mais um anacronismo. A clássica canção de abertura do disco, "Hey Hey, My My (Out Of The Blue)", sintetiza com perfeição o espírito da obra. Nela, Neil Young declara o seu amor ao rock and roll e faz dele a sua profissão de fé, mas ao mesmo tempo expõe as suas contradições, fazendo a ligação direta entre o Rei Elvis Presley e o príncipe bastardo Johnny Rotten, vocalista e líder dos Sex Pistols. É nessa canção, inclusive, que está a famosa sentença "é melhor queimar do que enferrujar", citada por Kurt Cobain na sua carta de despedida.
"Anos de Rebeldia", cujo título original é "Out Of The Blue", é um filme de 1981 que é diretamente inspirado em "Hey Hey, My My", mostrando o cotidiano de C.B. (Linda Manz), uma "punk girl" interiorana sempre pronta a arrumar confusões e fissurada em Elvis e Sid Vicious. Ao longo da trama, a menina vê o seu frágil núcleo familiar se desestruturar ainda mais após o seu pai, Don Barnes (Denis Hopper, também diretor do filme), sair da prisão.
Um detalhe fantástico em "Anos de Rebeldia" é que ele parece uma continuação natural de "Sem Destino", a fundamental obra de estréia de Hopper na direção e um verdadeiro marco cultural dos "sixties". Enquanto no primeiro filme há uma abordagem com um certo tom idealista e romântico para a trajetória dos dois traficantes-motoqueiros interpretados por Hopper e Peter Fonda, mas com final abrupto e violento, em "Anos de Rebeldia" essa visão mais reverencial dos anos 60 desaparece. Para o diretor, o sonho definitivamente acabou. A rebeldia, o amor livre e o uso de drogas, vistos anteriormente como formas de contestação da sociedade, foram distorcidos, passando apenas a serem mais uma forma de alienação. E C.B. é a encarnação perfeita dessa constatação, com a mesma tendo um ódio que chega a ser conceitual pelos hippies (a garota adora invadir as ondas de rádios amadores para ficar bradando "Kill All Hippies" - aliás, tal expressão é título de uma grande canção do Primal Scream, que inclusive sampleou as falas de C.B. para a música).
Hopper filma toda essa saga de decadência e destruição com muito vigor e estilo, apostando em um registro de fortes influências documentais que se casa perfeitamente com o espírito do filme. Isso se reflete logo na violenta abertura, com um dos acidentes automobilísticos mais brutais já visto no cinema, e também nas fantásticas seqüências de peregrinação noturna de C.B. pela cidadezinha onde vive e arredores, com a mesma se metendo em tudo que é tipo de encrenca, desde a puxar briga com leões-de-chácara com o triplo do seu tamanho até dar canja como baterista no show de uma banda punk e logo após participar do roubo de um carro. A espontaneidade captada por Hopper nesses momentos é admirável. É incrível também como a direção de fotografia oferece ao filme uma narrativa visual fortemente expressiva, abusando de longos planos-seqüência .
Além do belo trabalho na direção, Denis Hopper tem em "Anos de Rebeldia" uma das melhores interpretações de sua carreira, com o seu Don Barnes variando de forma comovente entre o francamente repulsivo e o patético. Mas o grande destaque do elenco do filme é sem dúvida nenhuma Linda Manz. Ela faz com que C.B. seja aquele tipo de personagem que fica rondando no nosso imaginário cinematográfico para sempre. Afinal, é em torno dela que gira o próprio filme, fazendo com que realmente ficamos íntimos da garota. Ao longo do filme, conseguimos perceber várias facetas de C.B.: sarcástica, apaixonada, carinhosa, carente, inocente, vingativa, sábia. Manz sabe captar e expressar todos esses lados da personagem, oferecendo uma atuação inesquecível. A garota ainda consegue resumir toda essa gama de sensações na trágica e irônica conclusão de "Anos de Rebeldia". Tal final, aliás, é uma verdadeira sacada de gênio de Hopper, dando um fecho sombrio e coerente para essa pérola transgressora da sua bissexta e marcante carreira de cineasta.
"Anos de Rebeldia", cujo título original é "Out Of The Blue", é um filme de 1981 que é diretamente inspirado em "Hey Hey, My My", mostrando o cotidiano de C.B. (Linda Manz), uma "punk girl" interiorana sempre pronta a arrumar confusões e fissurada em Elvis e Sid Vicious. Ao longo da trama, a menina vê o seu frágil núcleo familiar se desestruturar ainda mais após o seu pai, Don Barnes (Denis Hopper, também diretor do filme), sair da prisão.
Um detalhe fantástico em "Anos de Rebeldia" é que ele parece uma continuação natural de "Sem Destino", a fundamental obra de estréia de Hopper na direção e um verdadeiro marco cultural dos "sixties". Enquanto no primeiro filme há uma abordagem com um certo tom idealista e romântico para a trajetória dos dois traficantes-motoqueiros interpretados por Hopper e Peter Fonda, mas com final abrupto e violento, em "Anos de Rebeldia" essa visão mais reverencial dos anos 60 desaparece. Para o diretor, o sonho definitivamente acabou. A rebeldia, o amor livre e o uso de drogas, vistos anteriormente como formas de contestação da sociedade, foram distorcidos, passando apenas a serem mais uma forma de alienação. E C.B. é a encarnação perfeita dessa constatação, com a mesma tendo um ódio que chega a ser conceitual pelos hippies (a garota adora invadir as ondas de rádios amadores para ficar bradando "Kill All Hippies" - aliás, tal expressão é título de uma grande canção do Primal Scream, que inclusive sampleou as falas de C.B. para a música).
Hopper filma toda essa saga de decadência e destruição com muito vigor e estilo, apostando em um registro de fortes influências documentais que se casa perfeitamente com o espírito do filme. Isso se reflete logo na violenta abertura, com um dos acidentes automobilísticos mais brutais já visto no cinema, e também nas fantásticas seqüências de peregrinação noturna de C.B. pela cidadezinha onde vive e arredores, com a mesma se metendo em tudo que é tipo de encrenca, desde a puxar briga com leões-de-chácara com o triplo do seu tamanho até dar canja como baterista no show de uma banda punk e logo após participar do roubo de um carro. A espontaneidade captada por Hopper nesses momentos é admirável. É incrível também como a direção de fotografia oferece ao filme uma narrativa visual fortemente expressiva, abusando de longos planos-seqüência .
Além do belo trabalho na direção, Denis Hopper tem em "Anos de Rebeldia" uma das melhores interpretações de sua carreira, com o seu Don Barnes variando de forma comovente entre o francamente repulsivo e o patético. Mas o grande destaque do elenco do filme é sem dúvida nenhuma Linda Manz. Ela faz com que C.B. seja aquele tipo de personagem que fica rondando no nosso imaginário cinematográfico para sempre. Afinal, é em torno dela que gira o próprio filme, fazendo com que realmente ficamos íntimos da garota. Ao longo do filme, conseguimos perceber várias facetas de C.B.: sarcástica, apaixonada, carinhosa, carente, inocente, vingativa, sábia. Manz sabe captar e expressar todos esses lados da personagem, oferecendo uma atuação inesquecível. A garota ainda consegue resumir toda essa gama de sensações na trágica e irônica conclusão de "Anos de Rebeldia". Tal final, aliás, é uma verdadeira sacada de gênio de Hopper, dando um fecho sombrio e coerente para essa pérola transgressora da sua bissexta e marcante carreira de cineasta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário