terça-feira, 29 de março de 2011

"Não posso colocar a culpa no câmbio", diz secretário do Ministério do Desenvolvimento

Não é incomum que ele pedale até o trabalho. Mas o gaúcho Alessandro Teixeira, secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior — o segundo na hierarquia —, não é um ciclista de ocasião. Disputa competições internacionais de Iron Man — 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de bicicleta e 42 quilômetros de corrida. Vai fazer o percurso em Florianópolis, em maio, e no Havaí, em outubro. 

A preparação o faz acordar às 5h30min para treinar das 6h às 8h15min. Entre 8h30min e 9h chega ao ministério para jornadas — mais longas do que a competição. No Iron Man, completa em 11 horas. No trabalho, a média chega a 12 horas. O fôlego de homem de ferro dá pique para renovar a estrutura, em sintonia com o ministro Fernando Pimentel, enquanto refaz três políticas — industrial, comércio exterior e comércio e serviços — que devem ser anunciadas em maio. 

Quinta-feira, antes da entrevista a ZH em Porto Alegre, Teixeira andava às voltas com declarações do ministro Guido Mantega de que um órgão ligado a seu ministério, o Inmetro, aplicaria barreiras técnicas a importados. Veja a seguir os trechos em que esclarece esses pontos e os em que garante não ter ambição de ser indicado para o Ministério das Micro e Pequenas Empresas, a ser criado.

Zero Hora — Barreiras técnicas podem ser adotadas para limitar importação de produtos de baixa qualidade?

Alessandro Teixeira — A qualidade não tem nada a ver com barreiras técnicas. O governo, por meio do Inmetro e da Anvisa, tem de fazer isso independentemente de querer reduzir importações. Tem de garantir qualidade e segurança dos produtos. Barreiras técnicas são vedadas pela OMC (Organização Mundial do Comércio). O Brasil não trabalha com barreiras técnicas para frear importações, o que seria ilegal. Uma coisa é exigir qualidade, padrão, metrologia, emissão de gases.

ZH — Haverá intensificação da defesa comercial?

Teixeira — Instrumentos de defesa comercial não podem ser confundidos com barreiras. A carne brasileira não entra em alguns mercados porque enfrenta barreiras fitossanitárias. Vamos ampliar o Departamento de Defesa Comercial para ter mais estrutura. Temos cerca de 20 pedidos para análise de dumping e aplicação de salvaguardas. A defesa não substitui o câmbio. Não vamos aumentar a exportação ou melhorar o perfil do comércio exterior pela defesa comercial.

ZH — Quais seus planos sobre o anúncio do Ministério das Micro e Pequenas Empresas, para o qual seu nome é cotado?

Teixeira — Não sei nada sobre o anúncio do ministério. Existe o projeto, é uma promessa de campanha da presidenta. Mas em nenhum momento cogitei minha saída. E não é questão de cargo, é o que gosto de fazer. É a área em que sempre me preparei para trabalhar. Se for chamado para outra missão, não vou recusar.

ZH — E como se enfrenta a questão cambial, crucial para o comércio exterior?

Teixeira — Não se trata de esquecer o câmbio, mas temos de fazer política independente disso. Atrapalha, mas não é maléfico como um todo. O real está valorizado porque a economia vai bem. Poderia ser melhor, mas não posso colocar toda culpa no câmbio porque não é verdade.

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